domingo, 26 de dezembro de 2010

a_literatura_da_utopia


Voltando a More, constata-se que as interpretações de sua obra na época a tiveram como um projeto praticável e impuseram-na um sentido estritamente econômico. Para viabilizar a construção da sociedade ideal seria necessário apenas uma coisa: riqueza. Este preço a pagar pela tentativa de perfeição fez com que vorazes decisões econômicas fossem tomadas e vistas como conseqüências necessárias que seriam compensadas pelos benefícios finais. Maquiavel (contemporâneo a More), em sua célebre frase “os fins justificam os meios” registrou toda esta visão econômica da época e hoje, na pós-modernidade, sua obra nada utópica O Príncipe é considerada fundamental para entendermos o emaranhado de valores desta época, pelos quais ainda vivemos.
Até agora vimos que o pensamento econômico da época interpretou a idealização utópica de More como um fim possível de ser atingido e se usou disso para justificar atitudes inóspitas tomadas pela economia da época. Mas que atitudes são estas? Podemos elencar a exploração exacerbada das colônias, a balança comercial favorável (exportar mais e importar menos) e a visão do sistema econômico como o jogo de soma zero (o ganho de um só é possível com a perda do outro). Cabe a nós perceber se o que realmente se visava na época era a construção da sociedade perfeita ou apenas o incessante acúmulo de riquezas sobre o qual perdemos o controle.
E quais as consequências disso tudo na sociedade atual? Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, a humanidade se depara com uma desordem na organização racional do mundo. Segundo ele, a evolução do pensamento do século XVI (aqui descrito) tornou tudo instável e hoje nossas vidas se resumem a tentativas de lidar com essa instabilidade.


Mais em: http://obviousmag.org/archives/2010/12/a_literatura_da_utopia.html#ixzz19Fg21XCM

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